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Brasil pode “perder” 420 mil carros novos até o fim de 2022

Apenas nos seis primeiros meses de 2021, entre 100 mil e 120 mil veículos novos deixaram de ser fabricados no Brasil devido à crise dos semicondutores, segundo a Anfavea (associação dos fabricantes de veículos). A previsão é que a oferta do equipamento no mercado se estabilize no terceiro trimestre de 2022. Isso significa que, seguindo nesse ritmo, até lá, o mercado automotivo brasileiro deixará de receber 420 mil novos automóveis. Qual é o reflexo prático dessa falta de abastecimento? Preços mais altos, carros defasados e novas formas de consumo.

Para quem não está atualizado sobre o assunto, é importante explicar que a crise dos semicondutores é a principal responsável pelas demoradas filas de espera para comprar grande parte dos modelos novos, e um dos componentes para a alta dos preços dos carros novos e usados. Semicondutor é uma peça fundamental para a indústria de transformação, utilizada na fabricação dos mais variados bens de consumo, como celulares, computadores, games, aviões, carros, entre tantos outros.

Com a pandemia, além de a produção ter sido impactada, houve uma maior demanda pela peça com o aumento da produção de alguns eletrônicos. Com isso, a indústria automotiva de todo o mundo foi atingida em cheio. Entre 5 e 7 milhões de carros deixaram de ser fabricados. Para se ter uma ideia, para a fazer um veículo são necessários de 500 a 1 mil semicondutores. Eles são utilizados em diversos equipamentos, desde câmbio e motor até os sistemas de conectividade e medição do nível de combustível.

1º reflexo: preços mais altos

Como manda a lei da oferta e da procura, com menos produtos disponíveis e demanda alta, os preços sobem. E, sim, a demanda está alta! Com alguns anos de incertezas econômicas acumulados, muitos brasileiros estão adiando a troca do carro há algum tempo, prova disso é que em uma pesquisa encomendada pela Anfavea, 75% dos entrevistados afirmaram que querem trocar/comprar um carro em 2021. E a maioria deles (86%) vai recorrer ao mercado de usados, já que o zero-quilômetro está caro e com filas enormes.

No entanto, o preço dos seminovos também acompanhou a alta, há casos de carros usados sendo vendidos pelo mesmo preço de quando novo, ou ainda mais caros do que um equivalente zero-quilômetro.

Segundo o presidente da Anfavea, Luiz Carlos Moraes, apesar de a crise dos semicondutores ter uma participação importante nessa alta de preço, é importante dar crédito a outros fatores, como a desvalorização do real, o aumento do preço do aço (em 100% a 120%), e o aumento da carga tributária (que fica entre 40% e 50% do valor do veículo) no estado de São Paulo, com atualização do ICMS de 12% para 14,5%.

2º reflexo: envelhecimento da frota

Com 120 mil carros novos a menos, é claro que a média de idade da frota brasileira será impactada. Mas a grande questão é vamos caminhar na contramão da evolução tecnológica que tivemos nos últimos anos, quando os carros novos passaram a receber mais itens de segurança, considerando os obrigatórios e não obrigatórios. Para se ter uma ideia, um estudo da Fenauto de abril mostrou que nos quatro primeiros meses de 2021, a procura por carros com mais de 13 anos cresceu 34,8%. Apenas nos seis primeiros meses deste ano, já foram vendidos mais carros usados do que em 2019 inteiro.

E não pense que é simples encontrar um modelo do jeito que você sonhou no mercado de usados, com toda essa procura, os “bons negócios”, ou seja, carros mais tecnológicos e em melhor estado de conservação, saem bem rápido. Por isso, às vezes é melhor segurar a ansiedade e esperar um pouco mais pelo novo.

3º reflexo: busca por soluções

Segundo o presidente da Anfavea, a frota de veículos para locação no Brasil está perto de 1 milhão de unidades e, para se adequar à alta demanda, as empresas pretendem comprar mais 400 mil automóveis ainda em 2021. Ele explica que esses 1,4 milhão vão atender empresas, varejo e a modalidade mais nova: a assinatura.

“Existe uma demanda por locação crescente no Brasil. De um lado, por conta da pandemia, as pessoas sentem a necessidade de ter um meio de transporte individual, por outro, muitos querem usufruir de um carro, mas não têm como arcar com o custo da propriedade. A assinatura entra como uma solução”, analisa Luiz Carlos Moraes. Na pesquisa feita pela associação, 29% dos entrevistados consideram o modelo de consumo, um número alto se levarmos em consideração que esse tipo de contrato começou a se popularizar durante a pandemia. No Brasil, empresas como Audi, Caoa Chery, Fiat, Ford, Jeep, Localiza, Movida, Renault, Unidas e Volkswagen oferecem esses tipos de planos. “Tudo o que pode ser feito, está sendo feito. Mais do que isto, não tem jeito”, disse o presidente da Anfavea.

Luiz Carlos Moraes explica que o esforço da indústria em viabilizar a produção de novos carros está a todo vapor, e não há como fazer mais para que a situação se estabilize antes do terceiro trimestre de 2022. No entanto, quanto ao preço dos veículos, o setor busca uma solução.

“Em relação a preço, a luta é para reduzir a carga tributária. A gente não aceita mais aumento. A carga tributária para automóveis no Brasil é muito alta, chega a 50% do veículo, dependendo do motor. Nossa capacidade de crescimento está limitada. Além disso, não existe equilíbrio entre setores, o automotivo é quem mais paga imposto, por isso carro é tão caro. Não queremos incentivo, queremos uma racionalidade na estrutura tributária do Brasil”, esclarece o executivo.

Por Paula Gama

Fonte: UOL

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