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Carro ganha importância como transporte seguro

No novo cenário que se abre para o pós-pandemia, para muitas pessoas, o automóvel volta a adquirir protagonismo na mobilidade urbana

Por Wilson Toume

No fim de março, quando a maior parte dos Estados brasileiros começou a adotar o lockdown, restringindo a movimentação das pessoas, a frase mais utilizada em todos os lugares foi “Fique em casa”. Não era para menos, já que os técnicos da Organização Mundial da Saúde OMS), médicos e demais especialistas defenderam, desde o surgimento da covid-19, que o distanciamento social é a medida mais eficiente para evitar a disseminação da doença.

Porém, com o tempo e o afrouxamento das medidas de isolamento em diversas regiões do País, muitas cidades começam a se deparar com o fenômeno da “fuga” de passageiros do transporte coletivo para meios de transporte individual.

Como se não bastasse, na maioria delas, as empresas de transporte reduziram a frota circulante, por causa da queda na demanda. De acordo com o Moovit, empresa especializada em serviços de mobilidade e que monitora a frequência do transporte coletivo em diversas cidades, a queda no uso do transporte público em São Paulo (SP) chegou a 63,5%, no dia 26 de maio. Em 12 de agosto, estava em 41,6%.

Desejo pela compra de um automóvel

A consultoria Ipsos realizou uma pesquisa na China em março (quando o País ainda registrava muitos registros da covid-19) com pessoas que não possuíam automóvel. O levantamento mostrou que 66% dos entrevistados pretendem adquirir um veículo nos próximos meses.

Antes da pandemia, esse índice era de 34%. Também chama a atenção o fato de que 77% das pessoas que desejam comprar um carro aponta o medo da contaminação no transporte público como principal fator para a decisão. Pelo fato de a China ser o maior mercado do planeta, muitos especialistas veem o comportamento dos consumidores de lá como exemplo do que pode ocorrer em vários outros países do mundo.

Por aqui, a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) encomendou uma pesquisa para o site Webmotors, que ouviu 1.668 usuários do serviço.

Desse total, 89% afirmaram que pretendem adquirir um carro ainda neste ano e, desse total, 66% afirmaram que vão deixar de usar o transporte público após o fim das medidas de isolamento.

Luiz Carlos Moraes, presidente da Anfavea, vê esse número com preocupação. “Infelizmente, o transporte público no País já não oferecia a qualidade que a população merece mesmo antes da pandemia. Agora, a situação ficou pior”, afirma.

Mercado tenta se adaptar às mudanças pós-pandemia

Para Luiz Carlos Moraes, presidente da Anfavea, o modelo atual do transporte público brasileiro provoca um dilema. “Para reduzir o receio que a população tem do transporte público em relação à contaminação, teríamos de aumentar o número de ônibus circulando nas cidades. Mas isso elevaria muito o custo e esse aumento não poderia ser repassado à tarifa. Portanto, acredito que a sociedade precisa decidir o que deseja do transporte público, já que se trata de uma questão social”, diz.

Nesse cenário de tantas transformações, alguns especialistas apostam que, entre os quem têm condições de comprar um veículo, haverá maior procura por automóveis compactos mais simples, a serem usados basicamente como meio de locomoção.

Isso vai representar um desafio extra para as montadoras, já que esse tipo de carro não traz muita lucratividade, e mantê-los com preços atraentes (ainda mais com o dólar em alta) não é fácil. “Cada montadora vai adotar uma estratégia de acordo com as suas possibilidades”, explica Luiz Carlos Moraes, da Anfavea.

Procura crescente nas locadoras

Já Paulo Miguel Jr., presidente da Associação Brasileira das Locadoras de Automóveis (Abla), vê um horizonte mais definido. “Estamos percebendo um aumento nas locações por pessoas que possuíam um automóvel antes da pandemia, mas haviam deixado de ter com a perspectiva de utilizar mais o transporte público ou os carros compartilhados”, acrescenta.

“Muitos desses consumidores estão optando pela locação por causa das incertezas do futuro; então, eles preferem aguardar, antes de voltarem a ter um carro próprio”, explica o executivo.

De fato, esse movimento já tem sido sentido nas locadoras de veículos. “Muitas pessoas que, antes, andavam de transporte por aplicativo começaram a fazer as contas e notaram que, com o mesmo valor mensal ou um pouquinho mais, podiam optar por um carro de aluguel”, conta Renato Franklin, CEO da Movida. “Ou quem antes já alugava um veículo está migrando para o serviço de carro por assinatura, com locações mais longas”, acrescenta Franklin.

Outra opção que tem sido muito procurada é o aluguel de carro para turismo de final de semana, que tem sido até maior que antes da pandemia. “Muita gente está alugando o carro pela primeira vez para viajar com a família, sair de casa um pouco e aproveitar o final de semana longe da capital”, conta Renato Franklin, CEO da Movida.

Segundo o executivo, a Movida logo se adaptou às mudanças provocadas pela pandemia e, hoje, oferece vários produtos para quem deseja locar um veículo, como aluguel mensal, aluguel de um carro seminovo por um ano e aluguel de um 0-km por 12, 18, 24 ou até 36 meses.

O executivo conta ainda que começa a haver uma mudança de prática em algumas empresas, que passaram a oferecer um carro alugado aos funcionários. “Com o custo do vale-transporte para três pessoas, é possível pagar uma locação mensal e ainda sobra um pouco para o combustível.”

Cuidados com a segurança

Todas essas transformações no cenário do transporte das pessoas na cidade também têm sido notadas pelos motoristas de aplicativos. Adriano Marcos, que atua na área há cerca de quatro anos, percebeu o surgimento de novos perfis de cliente.

“Notei um aumento de passageiros cujas viagens são pagas pelos empregadores”, relata. O mais curioso, de acordo com Marcos, é que isso ocorre em diversos níveis sociais. “Não tem um padrão: vão desde babás que moram na periferia e cuidam de crianças em bairros nobres até funcionários de grandes empresas”, conta.

Embora o trânsito nas ruas tenha se reduzido bastante nesse período, o possível aumento no número de carros circulando pela cidade pode afetar a segurança. “Esse movimento traz alguns riscos, pois somos uma sociedade ‘carrocêntrica’.Antes da pandemia, estávamos começando a ver o homem como centro da mobilidade, já que o automóvel estava perdendo importância, sobretudo entre os consumidores mais jovens. É preciso ficar atento a isso”, analisa José Montal, diretor da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet).

A sensação de proteção a bordo de um automóvel também pode provocar outro fenômeno, conhecido como homeostase de risco – teoria controversa desenvolvida por Gerald J.S. Wilde, professor de psicologia da Universidade de Kingston, em Ontário (Canadá), segundo a qual as pessoas tendem a se expor a mais a riscos na mesma medida em que se sentem mais protegidas, numa espécie de relaxamento.

Seguindo essa hipótese, as pessoas que usam transporte coletivo podem se cuidar mais, sempre usando máscara e higienizando as mãos, por exemplo, do que aquelas que só usam o automóvel.

“Se deixar o carro com o manobrista, será que o dono do carro vai se lembrar de tomar todos os cuidados quando receber o carro de volta? O manobrista teve contato com quantos veículos?”, questiona Montal.

Por tudo isso, quem tem um veículo em mãos precisa ficar atento a todos os detalhes. Afinal, a segurança para si e sua família sempre vem em primeiro lugar.

Evite contaminar o interior do veículo

Confira algumas dicas sobre cuidados que você deve ter para evitar a covid-19 no automóvel

  • 1. Seu carro é uma extensão da sua casa. Se puder, viaje sozinho
  • 2. Carregue sempre álcool em gel e higienize suas mãos assim que entrar no veículo
  • 3. Providencie um frasco com uma mistura de água e detergente neutro e deixe no interior do carro para limpar alguma superfície se necessário
  • 4. Evite os serviços de manobrista nos estacionamentos
  • 5. Prefira trafegar com as janelas abertas para permitir a circulação do ar dentro do carro, principalmente se houver passageiros
  • 6. Se for ao mercado, acomode as compras apenas no porta-malas, não deixe produtos sobre o banco antes de higienizá-los, mesmo em trajetos curtos
  • 7. Se precisar sair com o carro, leve apenas o necessário; quanto mais objetos você estiver carregando (chaves, cartões, bolsas etc.), maior será o risco de algum deles ser contaminado
  • 8. Mantenha o interior do carro limpo e esvazie o lixo constantemente

Como fazer a desinfecção do seu veículo

Foto: Getty Images

Se você precisa usar o veículo no dia a dia, é recomendável providenciar a desinfecção da parte interna sempre que possível. Veja como fazer:

  • 1. Use um aspirador para retirar toda a poeira, principalmente nas frestas dos bancos e no piso
  • 2. Todos os locais que têm contato com as mãos devem ser limpos com álcool isopropílico (muito usado na limpeza de equipamentos de informática): volante, painel, manopla do câmbio e do freio de mão, puxadores das portas, maçanetas, rádio ou central multimídia etc. Atenção: não utilize álcool em gel, água sanitária ou qualquer produto com solvente, pois eles estragam o material do acabamento dos automóveis
  • 3. Bancos, painéis das portas e console podem ser limpos com uma mistura simples de água e sabão neutro. Lembre-se apenas de deixar o carro secar sob a sombra, depois
  • 4. Existem produtos específicos para a limpeza do sistema de ventilação e ar-condicionado do carro, mas uma boa dica para evitar fungos no sistema é deixar o aquecedor ligado durante cerca de cinco minutos para eliminar qualquer umidade do sistema

Fonte: Mobilidade Estadão

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