No serviço conhecido como carro por assinatura, o usuário não se preocupa com desvalorização, documentação, impostos, seguro, entre outras obrigações
Tem pessoas que não abrem mão de dirigir um carro 0-km, como é o caso do corretor de imóveis Jonas Kim, 51 anos, morador da capital. Necessidades de trabalho à parte – ele tem que rodar todos os dias –, suas preocupações com segurança, apresentação do veículo e tempo perdido com manutenções e reparos fizeram com que optasse pelo serviço de carro por assinatura depois de colocar os prós e contras na balança (saiba mais no depoimento a seguir).
De fato, as comodidades vêm impulsionando esse movimento. Afinal, diferentemente da chamada locação convencional (usado ou seminovo), na assinatura o cliente sempre tem a chave de um zerinho na mão, podendo trocá-lo a cada 12 meses. Entre as vantagens estão não perder tempo e/ou dinheiro buscando a melhor negociação (diante de uma compra, à vista ou financiada), preocupar-se com emplacamento, documentação, impostos e seguro e, em caso de reparos, buscar vários orçamentos com mecânicos indicados (se não possuir um de confiança).
Tudo já faz parte do pacote, hoje oferecido por locadoras, seguradoras e montadoras, inclusive veículo reserva e retirada na casa do cliente para as revisões programadas na concessionária
Na nova cultura da mobilidade, a assinatura pode ser uma boa para quem não tem sentimento de posse, não quer esquentar a cabeça com as burocracias, quer flexibilidade para usar sempre que precisar, para quem busca agilidade e praticidade, para quem não quer desembolsar o valor de um carro à vista ou financiar algo que logo vai se depreciar assim que sair da concessionária. Tudo depende da necessidade, do estilo de vida e da rotina.
Até investidores têm procurado esse serviço
No entanto, o perfil investidor tem buscado essa opção, uma vez que a assinatura pode ser uma alternativa financeiramente atrativa para ter um veículo.
“Nesse modelo, o cliente sabe previamente o valor que pagará pelo automóvel, sem desembolsar nada a mais. Enquanto isso, foca no rendimento daquele dinheiro que seria destinado ao financiamento”, explica David Pereira, gerente do Porto Seguro Carro Fácil.
A posse do veículo não é mais uma necessidade
Segundo David Pereira, esse serviço também é procurado por quem deseja ter mais liquidez para realizar algum tipo de investimento, caso de 93% dos assinantes.
“Em dois anos, o motorista que opta pela assinatura de um modelo de entrada, em vez da compra do mesmo carro 0-km, deixa de gastar R$ 8 mil, além de evitar uma taxa de financiamento de 1,98% e um percentual médio de depreciação de 29% no valor do automóvel”. Para o gerente, em momentos de incerteza econômica, a expectativa é de atender novos clientes.
“A assinatura também permite que os clientes mantenham suas reservas de emergência, sem a necessidade de abrir mão do conforto e da segurança de um veículo particular.”
A Movida, que atua no varejo (aluguel e venda de seminovos) e no mercado corporativo (terceirização de frotas para empresas), a partir de 2017 adaptou sua oferta aos novos comportamentos do jovem consumidor, que queria fugir de uma compra e depreciação do veículo, entre outros fatores.
Hoje, a demanda atende a todas as faixas etárias, perfis e necessidades, desde de quem vende o carro para alugar um da mesma categoria ou precisa de veículo para o trabalho até para famílias cujo segundo carro é alugado.
Começou com o produto Mensal Flex (aluguéis de longo prazo para pessoa física, mínimo de um mês ou tempo desejado), depois com o anual (período mínimo de 12 meses) e, há três meses, criou o Movida Zero Km.
“O cliente escolhe o seu carro novo, não importa o modelo ou a marca, com planos que variam de 12 a 36 meses”, explica Jamyl Jarrus, diretor executivo comercial e de marketing da Movida.
“Desde 2017, o aluguel por assinatura cresce fortemente em torno de 50% por ano, sobretudo nas grandes capitais. Mas observamos que havia um perfil que fazia questão de carros zero e, desde então, tem ocorrido uma grande adesão ao modelo, especialmente quando se comparam os custos.”
Diversificação e compartilhamento
De acordo com Rogério Louro, diretor de comunicação corporativa da Nissan do Brasil, uma das maneiras de oferecer maior mobilidade é diversificar as opções para o consumidor escolher qual faz mais sentido para ele.
“Há consumidores que precisam e querem ter o seu veículo próprio, mas também os que não podem ou não precisam ter a posse integral do automóvel”, analisa. Por isso, uma das estratégias da Nissan é estudar novas opções no mercado de compartilhamento de veículos no Brasil.
No início de 2019, a empresa lançou um programa interno de locação de veículos exclusivo para os funcionários, o “Vou de Nissan”, que gerou vários dados e aprendizados importantes sobre esse mercado.
“Em fevereiro deste ano, expandimos esse programa e implementamos um projeto-piloto destinado ao aluguel de carros para funcionários de fornecedores e prestadores de serviços nos Estados de São Paulo, Paraná e Rio de Janeiro, ou seja, onde ficam a sede, a fábrica e os escritórios regionais da fabricante japonesa no país”, explica Louro.
A Kinto Brasil – que, em julho, assumiu as operações do Toyota Mobility Services, lançado em setembro de 2019, tornando-se Kinto Share – também oferece soluções de mobilidade em 31 concessionárias participantes nos principais centros comerciais do Brasil.
“O serviço de compartilhamento de veículos tem atraído os mais diferentes públicos, desde os clientes Toyota que querem conhecer algum veículo diferente, os que possuem alguma necessidade diferente de uso de algum modelo até a nova geração já acostumada ao conceito pay per use”, analisa Roger Armellini, diretor de mobilidade da Toyota e diretor comercial da Kinto.
65 mil downloads no aplicativo
Armellini não acredita que a modalidade simplesmente substitua a compra de um veículo 0-km, mas funciona como um complemento. “Os clientes já possuem veículos da nossa ou de outras marcas, mas optam por modelo, tamanho ou finalidade diferentes para atender a necessidades pontuais, como uma viagem de final de semana com toda a família ou até o transporte de algum tipo de carga utilizando as picapes Hilux, por exemplo.”
Ele conta ainda que o crescimento da plataforma e o retorno dos clientes têm sido bastante positivos, com utilização dos serviços por mais de uma vez, inclusive para testar o carro que desejam adquirir, em uma experiência mais completa do que apenas o test drive da concessionária pode proporcionar.
“Desde o lançamento do Toyota Mobility Services, já tivemos mais de 65 mil downloads do aplicativo, mais de 18 mil usuários cadastrados e mais de mil aluguéis realizados.”
O que o mercado oferece
Carro Fácil Porto Seguro: é preciso ter, no mínimo, 25 anos e dois de habilitação, além de garagem disponível. São mais de 30 opções de veículos, nos planos Controle (a partir de R$ 999) e Convencional (a partir de R$ 1.189), com valores que variam conforme veículo, franquia de uso e período de contrato (12 e 24 meses).
O cliente escolhe, dentro das opções disponíveis, o modelo, a cor e a placa do veículo. Todos os veículos são entregues ao cliente já com insulfilm (na compra de um 0-km, em geral sua aplicação é cobrada à parte), além de vantagens e benefícios exclusivos da companhia (serviços residenciais inclusos).
Movida Zero Km: o cliente aluga o carro por um período mínimo de 12 meses, incluindo documentação, IPVA, licenciamento, seguro e manutenções previstas no manual. Movida Zero Km – R$ 869,10 por mês (Fiat Mobi, plano 24 meses, franquia mil km). Atualmente, há uma promoção na qual o cliente paga nos três primeiros meses R$ 424,60 por mês.
Nissan do Brasil: idade mínima de 21 anos, habilitação na categoria B válida e definitiva e cartão de crédito (cobrança mensal recorrente que não consome o limite do cartão), documentação, seguro (não só de terceiros), manutenção durante o período do contrato, assistência 24 horas e desconto na compra após o término do período de locação.
O sistema é 100% online, ou seja, o usuário só precisa ir até a concessionária para buscar um dos modelos oferecidos (Nissan Kicks – crossover – e os compactos Nissan March e Nissan Versa).
Toyota: com aluguel de uma hora a um mês, seguro completo, assistência na estrada, veículos conectados com telemática, central de atendimento 24 horas por dia, sete dias por semana, acesso total aos modelos híbridos Toyota e Lexus, serviço de valet, além de os veículos serem entregues, mantidos e reparados pelas concessionárias da marca, usando apenas peças originais. É preciso fazer o download do aplicativo Kinto Share (disponível para iOS e Android), realizar o cadastro e aguardar a confirmação.
Após a validação, selecionar o veículo, o período (que pode ser por hora, dia ou mês) e retirar o veículo na concessionária disponível mais próxima ou indicar um local para a entrega do modelo. Para ter uma ideia, o preço médio do aluguel diário de um Corolla Altis Premium HV é de R$ 288 e de um Etios Sedan X+ 1.5L AT, R$ 119 o dia. Para a efetivação da locação, são necessários CNH definitiva e cartão de crédito, ambos válidos
Opinião de quem usa
Em 2016, um amigo comentou que estava trabalhando com um novo produto. A oferta chamou minha atenção pelo fato de ser amigo e também pelo reconhecimento da companhia, com a qual já tinha experiências positivas.
Isso foi importante, pois não conhecia ainda essa opção no mercado. Sempre troquei de carro a cada dois anos, no máximo: para mim, a segurança vem em primeiro lugar e os novos dificilmente dão problemas e imprevistos, como o de ficar parado no meio da rua.
Mesmo assim, precisava de tempo para revisões, manutenção, eventuais contratempos e reparos, como troca de pneus e bateria, algo não muito agradável de fazer na correria do dia a dia. Como pedalo aos finais de semana, acabei optando por um modelo maior (Chevrolet Spin 1.8, de sete lugares, câmbio automático, completa) pela relação custo x benefício.
Na ponta do lápis, o valor mensal era mais ou menos o que gastaria em uma compra, porém, sem o desembolso à vista, mas com todas as conveniências, porque documentação, seguro, revisão, impostos, serviços de leva e traz e guincho, em caso de necessidade, já estavam inclusos.
Assim que chegou, vendi meu Fiat Freemont. Gostei tanto da experiência e conveniência que, na sequência, fiz a assinatura também de um Ford Ka, pois necessito de um segundo carro para o rodízio de veículos, especialmente porque 90% dos meus trajetos são urbanos e poucas viagens em um raio de 200 quilômetros.
Já estou no sexto carro por assinatura, com Spin (R$ 2.450/mês, plano de 24 meses) e Ka (R$ 1.706/mês, plano de 18 meses, com desconto de 75% nos três primeiros meses). No pacote, incluí minha esposa e meu filho como condutores adicionais, e aproveito ofertas para quem renova e descontos em estacionamentos da rede conveniada.”
Por Patricia Rodrigues
Fonte: Mobilidade – Estadão