Natal e Ano Novo já estão logo ali e as férias de janeiro para muita gente também. Quem não se antecipou e ainda pensa em alugar um carro para viajar pode encontrar dificuldade. O Brasil tem uma frota de cerca de 1 milhão de automóveis para locação, mas a demanda é maior do que a oferta. “O déficit de veículos para o setor de locação está em torno de 600 mil veículos”, aponta Paulo Miguel Junior, presidente do Conselho Nacional da Associação Brasileira das Locadoras de Automóveis (ABLA).
O aumento da procura por carros alugados cresceu durante a pandemia, período em que quem estava sem automóvel próprio, mas precisava se locomover, viu na locação uma alternativa ao transporte público no dia a dia ou às viagens de avião e ônibus. Ao mesmo tempo, as locadoras enfrentaram – e ainda enfrentam – a demora para conseguir carros novos para aumentar a frota. Isso aconteceu porque depois de ter sido forçada a fechar fábricas no ano passado, durante os períodos mais críticos da pandemia de Covid-19, a indústria automobilística teve pela frente outro entrave para a produção: a falta de chips semicondutores. Com a retomada, o setor entrou numa espécie de fila por semicondutores, que também são utilizados em diversos aparelhos eletrônicos, como celulares, tablets, televisores e até cartões de crédito.
Para se ter uma ideia, dados da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave) mostram que o número de automóveis emplacados no acumulado de 2021 até novembro foi de pouco mais de 1,4 milhão. O número é 31,5% menor que no mesmo período de 2019. “O prazo de entrega de um carro de uma montadora para as locadoras está acima de 90 dias. Em alguns casos, chega até a 360 dias”, diz Miguel Junior, da ABLA. Além disso, os zero quilômetros estão mais caros. De acordo com a Tabela Fipe, o valor médio dos carros novos no país subiu 25% de outubro de 2020 a setembro deste ano.
Carros esgotados nas maiores locadoras
Na Unidas, a segunda maior locadora no segmento de rent a car no país, dois terços das cerca de 250 lojas não estão aceitando mais reservas para o Natal ou o réveillon. É o que explica Carlos Sarquis, head de Rent a Car (RAC) da Unidas. “Não somente a gente, mas locadoras do mundo inteiro estão com o número de carros muito inferior ao que precisaria ter”, diz. “Se não fosse essa restrição na compra de novos automóveis, acredito que a Unidas poderia ter uma frota 50% maior do que tem hoje porque há demanda”, afirma Sarquis.
A demora para conseguir comprar carros novos também levou a um envelhecimento da frota de 70 mil carros da Unidas. “A idade média dos carros costumava ser de seis meses. Todo mês, mais de 10% dos carros eram novos. Hoje em dia, a idade média dobrou. Isso era algo impensável, que foge dos nossos padrões de qualidade”, explica Sarquis.
A situação para quem quer locar um carro só deve melhorar a partir de meados de janeiro. A principal dica de Miguel Junior, da ABLA, é se antecipar o máximo possível aos principais feriados, como o Carnaval, que acontece no final de fevereiro. E para quem pretende alugar um período mais longo, no modelo de carro por assinatura, o cenário também é complicado. “Nesses casos, as empresas estão pedindo um prazo entre 90 e 120 dias para liberar uma unidade”. explica.
A alternativa do car sharing
Quem não se antecipou para as festas de fim de ano pode tentar procurar automóveis disponíveis em pequenas locadoras. “As pessoas tendem a ir nas mais conhecidas. Então, pode ser que ainda haja disponibilidade nas menores”, diz Miguel Junior. Mas ele alerta para o cuidado para não alugar de pessoas ou empresas que não são locadoras formalmente constituídas e que podem gerar problemas para o consumidor.
Outra saída possível é tentar encontrar automóveis disponíveis nos aplicativos de carsharing. Nesse modelo de compartilhamento de carros, muitas unidades são utilizadas por períodos curtos. Por isso, pode ser possível locar um veículo em cima da hora. A desvantagem é que na maioria dos serviços no país não dá para fazer reserva e nem todos eles estão disponíveis em todas as regiões do Brasil.
A Turbi, por exemplo, é uma locadora 100% digital que começou em 2017 com cinco automóveis e hoje tem 1500. Ela opera na capital de São Paulo e em outras sete cidades da região metropolitana, com cerca de 500 pontos de retirada e entrega dos veículos. A locação do carro é feita pelo aplicativo e o usuário escolhe onde retirar o veículo, que é liberado por reconhecimento facial. O aluguel pode ser por um pacote de horas e é possível utilizar o carro para viagens, mas ele deve ser devolvido no mesmo local da retirada. “Nos primeiros meses da pandemia, em 2020, tivemos uma queda de 50% no negócio, mas neste ano a demanda aumentou de 25% a 30%”, conta Diego Lira, CEO da Turbi.
No Rio de Janeiro, a Wali funciona num esquema parecido com o da Turbi, com carros em pontos como shoppings ou condomínios em bairros das zonas sul, oeste e norte da cidade. A ideia da empresa surgiu em 2019 e ela seria lançada em março de 2020, mas seus sócios tiveram de adiar os planos por causa da pandemia. A Wali começou a funcionar no início de 2021. “Prevíamos chegar ao final do ano com uma quantidade entre 30 e 40 carros. Por causa da pandemia, aumento de preços e a falta de carros no mercado, só conseguimos atingir 16. Chegamos a receber estimativa de entrega de carros nas montadoras de 150 dias”, diz Guilherme Rajzman, sócio fundador da empresa Wali. Mas o aumento da procura já faz a empresa projetar finalizar 2022 com uma frota entre 120 e 150 carros. Para locar um carro na Wali, também é preciso baixar o aplicativo e a tarifa inclui a gasolina. O veículo deve ser entregue no mesmo lugar da retirada.
Quem não se importa em viajar com outras pessoas, ainda tem a opção de pegar uma carona nos aplicativos BlaBlaCar e Waze Carpool.
Carro para quê?
Segundo o relatório “Tendências de Mobilidade e Viagem no Brasil”, divulgado na segunda semana de dezembro pela Localiza, no últimos dois anos, o carro ganhou relevância no quesito mobilidade por ser um meio de transporte sem aglomeração e que possibilitava deslocamentos até destinos mais próximos durante a pandemia.
Para mais da metade dos respondentes, 66,2%, o carro próprio continuou sendo o principal meio de transporte, seguido pelo carro de aplicativo (57,1%), o ônibus (44,8%), a moto (25,3%) e a bicicleta (20,6%) enquanto o carro alugado apareceu na oitava posição, indicado por 16,9% dos participantes, como opção primordial para lazer e viagens de pequenas distâncias a lazer ou de grandes distâncias a trabalho.
O aumento no valor dos carros zero quilômetros, a inflação quase batendo 10% no acumulado de 2021 e o IGP-M, índice que regula muitos contratos e aluguéis, em torno de 25% no ano levaram ao aumento das tarifas de locação. Na Unidas, esse aumento está entre 30% e 40%. “Nossos custos estão mais atrelados ao IGP-M, por isso esse reajuste”, explica Sarquis. Na Turbi, a tentativa foi negociar contratos atrelados ao IGP-M alterando para o IPCA. “Ainda assim, tivemos de repassar um reajuste entre 20% e 25% para o preço da tarifa”, diz Lira.
Mesmo com o aumento de preços, quem trabalha no setor acredita que ele vai continuar aquecido, pois a locação de veículos deve se tornar cada vez mais comum. “Esse ainda é um serviço incipiente, mas que está em crescimento. O brasileiro tinha receio de alugar carros. Agora, ele aluga e percebe que os processos estão cada vez melhores”, afirmar Sarquis. Ele conta, por exemplo, que durante a pandemia a Unidas desenvolveu um sistema de liberação de carros diretamente no pátio por meio de QR Code, sem que o cliente precisasse ir para uma fila em uma das lojas.
Rajzman, da Wali, também acredita que é uma tendência que veio para ficar. “Cada vez mais as pessoas estão pensando em vender o carro, que fica 95% do tempo parado numa garagem. A pandemia intensificou isso”, acredita.
Por Simone Costa
Fonte: InfoMoney