spot_img
InícioMercadoFusão entre Localiza e Unidas deve encarecer aluguel de veículos e até...

Fusão entre Localiza e Unidas deve encarecer aluguel de veículos e até preço de carro novo, diz Movida

Terceira maior empresa do segmento e mais três concorrentes querem que órgão antitruste barre a operação

A Movida, terceira maior locadora de veículos do país, pediu para ingressar como terceira interessada no processo do Cade (órgão antitruste brasileiro) que vai analisar a operação de fusão entre as duas maiores do setor, Localiza e Unidas.

A empresa quer que a operação seja barrada, sob argumento de que a união das líderes de mercado, a maior fusão da história do segmento, traria aumento de preços de locações e até de carros novos ao consumidor, além de causar problemas concorrenciais no setor. A solicitação foi anunciada ao mercado pela companhia na segunda-feira.

Ao menos outras três companhias especializadas em gestão de frota entraram com pedidos semelhantes junto ao Cade: a Fleetzil (Fleet Solutions), empresa do grupo Volkswagen; a Ouro Verde, pertencente desde 2019 à Brookfield; e a Ald Automotive, do grupo francês Société Générale.

A Movida, que pertence ao grupo JSL, argumenta no processo que as empresas remeteram ao Cade documentos que minimizam o tamanho de suas operações, e pede que o órgão rejeite a fusão.

A empresa anexou ao seu pedido um parecer encomendado pela companhia ao ex-Superintendente adjunto do Cade Kenys Menezes Machado, que deixou a instituição em abril do ano passado.

A fusão foi anunciada pelas líderes de mercado Localiza e Unidas em setembro do ano passado, mas só foi oficialmente notificada ao Cade, que precisa autorizar o negócio, no dia 11 de janeiro.

A operação criaria uma gigante multinacional dos ramos de locação de veículos, gestão de frota e venda de seminovos com valor de mercado atualizado próximo a R$ 58 bilhões e uma frota de quase 500 mil veículos ao todo, com dados referentes ao ano passado.

A Movida, hoje a terceira maior, com pouco mais de 100 mil veículos, não demonstrava interesse em barrar a operação das concorrentes à época do anúncio da transação, segundo advogados concorrenciais que mantiveram contatos com a empresa sobre o assunto. A avaliação à época era de que a concentração de mercado elevaria os preços de locação e possibilitariam eventuais ganhos de margem à Movida.

A mudança do entendimento ocorreu depois que Localiza e Unidas remeteram informações econômicas ao Cade que, na visão da Movida, não condizem com a realidade.

A avaliação do conselho de administração da empresa, segundo pessoas com conhecimento do negócio, passou a ser de que a redução na competição seria drástica e poderia reduziria o crescimento do negócio de locação de carros, que nos últimos anos se expandiu em meio a queda no preço médio das diárias de locações.

Em um documento de 47 páginas, o parecerista contratado pela Movida, Kenys Menezes Machado, afirma que a junção entre Localiza e Unidas traria “altas concentrações de mercado, aumento das barreiras à entrada, arrefecimento da rivalidade, elevada potencialidade de distorção do ambiente competitivo e redução das opções do consumidor” e pede a reprovação do negócio.

Para a Movida, é “extremamente improvável que a participação de mercado das duas seja inferior a 40% (no mercado de locação), como consta no formulário notificado ao Cade”. O documento cita que a própria Localiza já estimou em documentos públicos sua participação de mercado em 51,1%. “Como a Unidas possui cerca de um terço da frota da Localiza, a participação de mercado dela seria de aproximadamente 15-20%. Ou seja, a participação conjunta (…) seria da ordem de 65%-70% em 2019”, diz o parecer encomendado pela Movida.

Para o parecerista Machado, a estratégia de preços mais agressiva da Unidas é que possibilitou os atuais preços no segmento. Com a união das duas, as diárias ficariam mais caras para o consumidor final e para os motoristas de aplicativo, que hoje são responsáveis por ao menos 20% do mercado.

“A Localiza se uniria à empresa que mais exerce rivalidade, enquanto a Unidas no precisaria mais continuar com estratégias agressivas para ganhar mercado sem perder a rentabilidade. O resultado é uma clara redução da concorrência com prejuízos ao consumidor”, diz o documento.

Além disso, o parecer argumenta que a fusão também pode elevar os preços dos veículos novos ao consumidor final. Isso porque Localiza e Unidas teriam um alto poder de barganha com as montadoras. Devido aos seus altos volumes de compras de veículos novos, as grandes locadoras já conseguem hoje descontos nas compras.

O documento afirma que os descontos dados a locadoras giram em torno dos 20%, mas que chegam a 30% para as grandes do mercado. “Esse valor pode aumentar, pois a Localiza-Unidas responderá por mais da metade de toda a compra de veículos das locadoras. Sozinha, a Localiza já responde por cerca de 10% de toda a venda de carros do país”, diz.

A maior pressão de margem junto às montadoras poderia fazer com que os preços de veículos ao consumidor final subissem como forma de compensar as margens de lucro menores obtidas com a venda às locadoras, segundo o documento.

Caso os pedidos da Movida e das demais concorrentes para participar no processo sejam deferidos, haverá a chance de as empresas impugnarem a fusão caso ela seja aprovada pela Superintendência-Geral do Cade.

Fonte: Época Negócios

Notícias mais lidas