Coberturas tendem a ser mais extensas, porém até a condição climática pode comprometer a proteção contratual
Você já leu no nosso Guia do Primeiro Elétrico que os veículos movidos a bateria têm menos componentes, o que implica em funcionamento e manutenção — geralmente — mais simples. Isso se reflete também nas garantias, muitas vezes mais extensas, porém que guardam aquelas letras miúdas às quais o consumidor precisa ter não uma lupa, mas um telescópio.
Se formos considerar as coberturas para os carros em geral, normalmente elas seguem o padrão dos modelos com motor a combustão: variam de três a cinco anos, em média. Contudo, a garantia para as baterias e os motores dos veículos elétricos (VEs) são, via de regra, de oito anos.
“Isso se deve em parte à confiança na durabilidade e desempenho desses componentes, assim como para tranquilizar os compradores sobre a manutenção de longo prazo”, observa Wanderlei Marinho, membro do Comitê de Veículos Elétricos e Híbridos da SAE Brasil.
![Especialista explica que garantia das baterias em veículos elétricos ajuda a tranquilizar o consumidor quanto à manutenção de longo prazo — Foto: Getty images](https://s2-autoesporte.glbimg.com/WkxLAjLJXagdWZqOsxeU3K9a3Tw=/0x0:1024x661/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_cf9d035bf26b4646b105bd958f32089d/internal_photos/bs/2021/Y/o/EUBPKOQXaJclAAO4Va2w/gettyimages-1204870793.jpg)
A garantia para a bateria, inclusive, não significa que, depois do prazo estipulado em contrato, ela vai morrer. Trata-se do tempo em que a fabricante garante que a peça vai operar em suas condições normais de funcionamento, tanto para tempo de recarga, como para autonomia.
Porém, aqui começam os alertas. Vários especialistas são quase unânimes que, a cada ano, a bateria de um VE perde até 2% de sua capacidade. Em uma conta bem básica, pode significar que um carro elétrico que promete autonomia de 300 km vai ter, ao fim de oito anos, o seu alcance reduzido “naturalmente” para 255 km, ou seja, 45 km a menos.
Só que a grande questão é que a cobertura não é tão ampla e irrestrita assim. Existem muitas contrapartidas que podem comprometer a garantia do carro elétrico. Desde o uso do automóvel e o carregador que ele usa, até mesmo as condições meteorológicas onde o veículo fica.
Olho nas letras miúdas
Estas entrelinhas das garantias do carro elétrico variam conforme a montadora. Na BYD, por exemplo, se o cliente for usar o modelo como táxi, motorista de aplicativo ou transporte de carga, o prazo de cobertura é reduzido significativamente: a bateria, de oito, cai para cinco anos ou 150 mil km, enquanto a do carro despenca de 5 para 2 anos, ou 100 mil km.
![Motoristas que exercem atividade remunerada com veículos da BYD devem arcar com prazos de cobertura da fabricante reduzidos — Foto: BYD Dolphin Mini. Fabio Aro/Autoesporte](https://s2-autoesporte.glbimg.com/4cNFamMDHRimHrhOY2fZEF6NI_M=/0x0:1700x1040/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_cf9d035bf26b4646b105bd958f32089d/internal_photos/bs/2024/b/q/BtngqJSxAB6LFWUBB55A/byd-dolphinmini-05.jpg)
A carga da bateria também influencia em vários aspectos. Boa parte das marcas diz que o VE perde a garantia caso o automóvel fique parado por 14 dias seguidos ou mais e com o nível de carga muito baixo ou próximo do zero.
Também não é aceito que o carro fique sem ser carregado uma única vez por três meses consecutivos. Outras montadoras exigem que o veículo só use aparelhos de recarga homologados.
![Algumas marcas suspendem garantia de seus modelos caso fiquem muito tempo com nível da carga baixo ou sem carregar — Foto: Rodrigo Ribeiro/Autoesporte](https://s2-autoesporte.glbimg.com/w2aROhbtN9sisgAFE_JETl9zKzw=/0x0:3000x1687/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_cf9d035bf26b4646b105bd958f32089d/internal_photos/bs/2021/h/S/td8rVaS2AagUaOVvBR8g/audi-e-tron-sportback-2020-dianteira-estatica-carregador.jpg)
E só de morar em cidades quentes como o Rio, onde a sensação térmica recentemente passou dos 62º Celsius, pode causar problemas. Certas fabricantes suspendem a garantia caso o carro elétrico fique exposto a um calor extremo.
Na JAC Motors, por exemplo, não se pode deixar o VE a temperatura acima de 45°C por mais de 24h. Na Volvo Car, a tolerância é maior: 55º C.
Ainda surgem outras peculiaridades em relação aos veículos elétricos, que também variam de acordo com o modelo e a marca. Na Peugeot, há alertas para não usar lavadores com pressão acima de 80 bar na hora de limpar o carro, enquanto outras proíbem o uso de tais mangueiras de lavagem na direção do bocal de carregamento.
![Volvo suspende garantia de seus veículos elétricos caso fiquem expostos em temperaturas a partir de 55° C por mais de 24h — Foto: Volvo EX30. Divulgação](https://s2-autoesporte.glbimg.com/8kXfFzWJ9nMlLvGxCFhZ90TrdN8=/0x0:1980x1229/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_cf9d035bf26b4646b105bd958f32089d/internal_photos/bs/2023/l/g/smZxgTQZK2wut2Bd4GuA/volvo-ex30-55.jpeg)
Itens de desgaste natural
No geral, as coberturas para carros elétricos têm as mesmas variáveis e exigências dos veículos a combustão. Aquela regra básica para não perder a garantia é a mesma: fazer a revisão periódica conforme a recomendação da fabricante — normalmente, a cada 10 mil km ou 1 ano.
Assim como em modelo flex, a gasolina ou diesel, componentes sujeitos a “desgaste natural” — itens da suspensão, fluidos, filtros, pastilhas e discos do freio, pneus etc — também não estão assegurados pela garantia. Porém, observe no contrato a provável exigência de fazer várias destas trocas ou reparos na concessionária.
E o item mais óbvio na cobertura diz respeito ao manuseio da bateria. Só profissionais qualificados da rede de distribuidores podem abrir e fazer qualquer reparo na bateria.