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Locadoras de veículos reduziram compras porque caíram suas vendas

Por Bruno de Oliveira

São Paulo – As três maiores locadoras de veículos do País, Localiza, Unidas e Movida, enfrentaram um difícil primeiro semestre naquela que tem sido sua principal unidade de negócios, a venda de seminovos. Até junho as vendas conjuntas somaram 118,3 mil unidades, volume 8% menor do que o registrado em igual período em 2019.

O desempenho já era esperado pelas empresas, conclusão baseada nos números de março e de abril, quando foi estabelecido o isolamento social na maioria dos municípios brasileiros e, com isso, veio o consequente e necessário fechamento das lojas. A medida sanitária restringiu as vendas e, naquele momento, as empresas começaram a redesenhar o planejamento para o ano.

Uma das prioridades traçadas foi reduzir o estoque de veículos e, com isso, diminuir os apetite na compra de veículos das montadoras para fazer caixa. Pressionou as locadoras o fato de que, com a pandemia, caiu o volume de deslocamentos no País, o que acabou refletindo sobremaneira não apenas no negócio de venda de seminovos mas também nas outras duas verticais das empresas, a gestão de frotas e a locação de veículos.

A Localiza, por exemplo, desembolsou R$ 173,3 milhões na aquisição de veículos e acessórios no segundo trimestre. Em igual período no ano passado, foram investidos R$ 2,7 bilhões. Com isso, no período de janeiro a junho, o investimento em novos veículos da empresa caiu mais da metade na comparação com as compras realizadas em 2019: de R$ 4,3 bilhões para R$ 2 bilhões.

No caso da Unidas as compras caíram de R$ 2 bilhões no primeiro semestre do ano passado para R$ 1,4 bilhão este ano.

A Movida, por sua vez, reduziu o aporte em frota de R$ 1,5 bilhão para R$ 1,1 bilhão.

No primeiro semestre, portanto, entrou no caixa da cadeia automotiva, principalmente nas montadoras, R$ 4,5 bilhões gerados pelas três empresas . O valor foi 42% menor do que o registrado no primeiro semestre do ano passado, R$ 7,8 bilhões.

A vendas de seminovos da Localiza caíram 17% no primeiro semestre, chegando a 58 mil unidades vendidas, ou desmobilizadas, como aparece em seu balanço trimestral. A Unidas vendeu 27,6 mil unidades, 7,7% a menos na comparação com o resultado do primeiro semestre do ano passado. A Movida, no entanto, conseguiu aumentar suas vendas em 13%, chegando a 32 mil unidades.

Ainda que o volume conjunto tenha sido 8% menor na comparação semestral ele pode ser considerado expressivo se espelhado ao desempenho de vendas das fabricantes no primeiro e crítico semestre. Fossem uma montadora as locadoras teriam ocupado o segundo lugar no ranking de automóveis da Fenabrave, ficando atrás apenas da General Motors, que vendeu 121,5 mil unidades até junho.

A receita líquida conjunta do negócio de seminovos das três empresas foi de R$ 4,8 bilhões no primeiro semestre, o que representou queda de 4% sobre a receita líquida registrada em igual período no ano passado, quando a receita conjunta foi de R$ 5 bilhões.

Veículo mais caro. A queda na receita da Localiza foi de 13% no semestre, na comparação com janeiro a junho do ano passado, somando R$ 2,4 bilhões. A da Unidas caiu 10%, chegando a pouco mais de R$ 1 bilhão. Já a da Movida aumentou 20,4%, somando R$ 1,3 bilhão.

O desempenho da Movida pode ser explicado em parte pela decisão de não baixar os preços dos veículos no momento de crise – no primeiro semestre o preço médio praticado pela companhia na desmobilização de ativo subiu 7,5% na comparação com o preço praticado no ano passado, girando em torno de R$ 40,3 mil.

No caso da Unidas, o preço médio foi de R$ 37,6 mil, pouco menor do que os R$ 38,5 mil registrado em junho do ano passado. A companhia, no entanto, trabalha com a premissa de manutenção dos valores atuais, ainda que o preço médio no mercado tenha se elevado entre 2% e 4%:

“A administração não detectou, por ora, a necessidade de redução de preços em ambos os canais de varejo e atacado”, disse o presidente Luiz Fernando Porto, “uma vez que os preços de veículos zero quilômetro aumentaram de 2% a 4% e poderão sofrer novos aumentos ao longo do ano”.

A Localiza não informou o preço médio em seu balanço trimestral.

Lucro menor. Enquanto articulavam meios emergenciais para gerar caixa e, assim, melhorar a situação operacional no segundo trimestre, as três grandes locadoras chegaram ao fim do primeiro semestre com margens de lucros distintas na divisão de seminovos.

A margem da Unidas foi de 6,9% em junho, 0,7 ponto porcentual a menos do que a margem registrada ao fim do primeiro semestre de 2019. A margem da Localiza, na mesma base de comparação, caiu de 3% para menos 0,3%. A Movida, entretanto, conseguiu reverter quadro negativo no período: de 2,8% negativos em junho do ano passado para 1,7% positivo, um aumento, portanto, de 3,9 pontos porcentuais.

Rede. No que diz respeito ao tamanho da rede de seminovos das locadoras houve variações no período, para mais e menos. A Unidas incorporou 21 lojas à sua rede de seminovos, chegando a um total de 121 pontos de venda. A Localiza somou uma unidade mais, chegando ao final do período com 125 lojas. No caso da Movida, movimento inverso: três unidades a menos e 66 pontos de venda.

O que poderá acontecer daqui para a frente é uma maior aposta nos canais digitais, um dos legados da pandemia. A Unidas, por exemplo, adotou iniciativas online e de delivery no período, uma tendência que segundo Fernando Trujillo, consultor da IHS Markit, deverá ser seguida no futuro: “Acredito no aumento das vendas online das locadoras. Assim que o mercado voltar à normalidade as vendas diretas devem subir novamente”.

Para Paulo Cardamone, consultor da Bright, a queda das vendas neste ramo de negócio poderá ser revertida a partir do segundo semestre, para quando é esperado um quadro consolidado do mercado de veículos usados: “Em julho e agosto as vendas de veículos usados voltou a crescer porque ninguém quer voltar ao transporte público. De forma que isso poderá abrir oportunidades às locadoras novamente”.

Segundo divulgação preliminar da Fenauto na segunda semana de agosto o mercado bateu a marca de 60 mil unidades transferidas diariamente, maior volume do ano para uma primeira quinzena.

Fonte: Autodata

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