Mais acessíveis, carros elétricos e híbridos já partem de R$ 120 mil no Brasil; veja lista

Aumento da concorrência vem causando queda nos preços, mas falta de pontos de recarga ainda emperra compra

Mais acessíveis, os carros eletrificados (100% elétrico e híbridos) têm ganhado a preferência do consumidor brasileiro. O atestado de queda de preço é recente, com modelos já abaixo de R$ 120 mil, patamar que, até um ano atrás, era inimaginável.

A ABVE (associação da categoria) confirma o apetite do brasileiro por carros movidos a bateria. Em julho foram emplacados no país 7.462 veículos do tipo, um recorde de toda a série histórica que monitora a categoria, iniciada em 2012, e 138% acima das vendas registradas no mesmo mês de 2022, quando foram comercializados 3.136 veículos.

Levantamento realizado pela consultoria automotiva Kelley Blue Book (KBB), a pedido do InfoMoney, mostra que 28 marcas ofertam carros eletrificados no país  — das mais acessíveis como Caoa e Renault até as de luxo como Mercedes-Benz, BMW e Ferrari.

“A democratização do segmento ainda não chegou, mas a chegada de empresas como BYD e GWM no Brasil ou a JAC, com um portfólio voltado para eletrificados, forçou uma revisão nos preços das concorrentes”, explica Milad Kalume Neto, diretor da consultoria automotiva Jato Dynamics.

O levantamento também que do total de carros eletrificados comercializados no Brasil, 15 foram lançados em 2023. Outro dado que chama a atenção é a queda de preço dos veículos do gênero: 31 dos 90 modelos da lista apresentaram redução de preço de 2022 para cá. (veja mais abaixo)

Entre os destaques, está o Caoa Chery iCar que passou a custar R$ 119.990 após redução de mais de 15% do preço, no começo de agosto. O Renault Kwid e-Tech, versão elétrica do hatch de pequeno porte, também apresentou queda de 3,1% e está custando R$ 139.990.

O Tiggo 5 híbrido, também da Caoa, recebeu um corte de mais de 17% e está disponível a R$ 142.040. Outra marca chinesa, que entrou no país recentemente, já oferta preços competitivos: o BYD Dolphin é um hatch 100% elétrico que custa R$ 149.800. A GWM oferta o SUV Haval H6 por R$ 214 mil, lançamento de 2023 (todos os preços estão na tabela ao final desta reportagem).

O levantamento também aponta que, em agosto, foi a primeira vez em que o preço de um carro eletrificado ficou abaixo da média nacional, conforme dados da Jato Dynamics. “Já é possível encontrar eletrificados partindo de R$ 119.990, enquanto a média geral para automóveis ficou em R$ 131.915”, afirma Kalume Neto.

Antonio Jorge Martins, especialista no setor automotivo e coordenador da FGV, concorda que a maior competição causa uma redução de preços e traciona a popularidade do segmento, ainda muito marcado por preços elevados.

A variação do dólar, segundo Martins, também impacta o segmento: a cotação fechou o primeiro semestre deste ano com queda de 9,27% frente ao real. “As fabricantes e importadoras desse segmento aproveitam as flutuações do dólar a seu favor e repassam pelo menos parte da queda para alguns veículos na tentativa de atrair clientela”, afirma.

O coordenador da FGV reforça que a demanda por elétricos ainda vai crescer consideravelmente no Brasil com a redução gradativa dos preços do produto.

O governo federal criou um programa focado em descontos para “carros populares” de até R$ 120 mil, entre junho e julho, que atendeu um público específico de renda, considerando o patamar de preço dos veículos.

O próprio levantamento da KBB mostra que apenas 11 carros elétricos custam menos de R$ 200 mil, um patamar inacessível para a maioria dos brasileiros. Além disso, outros 42 modelos tiveram alta de preço.

Questão da autonomia

Além dos preços ainda altos, a baixa autonomia das baterias e a falta de infraestrutura para recarga — ainda mais em regiões distantes dos grandes centros urbanos no Brasil — seguem sendo desafios para os carros eletrificados. “O segmento está longe de ser democratizado por isso”, complementa Kalume Neto.

Todo o mercado de veículos elétricos, que inclui carros de passeio, comerciais leves, caminhões e ônibus, conta com cerca de 200 modelos, segundo a ABVE. E a infraestrutura de recarga tem cerca de 3.500 pontos instalados no país (dados até junho deste ano).

“Ao comprar um carro eletrificado, o consumidor deve colocar na conta: a infraestrutura perto de onde mora, qual será o uso do veículo, além do preço. Se a pessoa pensa em viajar bastante com o carro, a recomendação ainda é adquirir algum modelo híbrido porque os pontos de recarga ainda são o maior gargalo”, diz Kalume Neto.

O custo de manutenção é outra preocupação. “A expectativa é que a manutenção do eletrificado seja mais barata, por conter menos elementos mecânicos. Porém,  o custo da bateria pode ser exorbitante, a depender do caso”.

Modelos e preços

Com base no levantamento de dados da KBB, o InfoMoney compilou 90 modelos eletrificados disponíveis no Brasil em 2023.

A lista considera:

• apenas carros (automóveis) 0km, conforme a classificação da Fenabrave;
• modelos elétricos e híbridos (plug-in, leve, etc);
• apenas as versões de entrada dos modelos mencionados;
• apenas carros ano/modelo: 22/23, 23/23 ou 23/24;
• os preços consideram o período entre 1 de julho e 10 de agosto; ou seja, pode ser que haja variação por parte das montadoras ou importadoras;
• a coluna de variação de preço considera o preço do carro disponível no período do levantamento em 2023 contra o preço do mesmo carro disponível 0km em 2022;
• carros que não têm a variação foram lançados em 2023 ou tiveram suas versões atualizadas em 2023;
• Vale mencionar que a Volkswagen possui o SUV iD4 elétrico, porém, o modelo ainda não está disponível para compra no país, somente para o modelo de assinatura via Sign&Drive. Por isso, não está na lista.
• A base de dados da KBB conta com mais de 23 mil modelos e compila dados da Fenabrave (associação das concessionárias), Fenauto (associação do segmento de usados), importadoras independentes e fabricantes do país.

Confira lista e os valores:

*A Tesla tem uma variação de valores porque não possui representação oficial no Brasil. Todo modelo é importado por empresas independentes e os custos flutuam conforme o dólar.