A assinatura de veículos é um movimento que veio para ficar e cresce no Brasil a cada ano. Mais do que um serviço que pode valer a pena, conforme o uso que o interessado faz do carro, é uma mudança de cultura, que rapidamente cai no gosto do brasileiro. Se antes os motoristas priorizavam a posse, hoje fazendo contas podem chegar à conclusão que a melhor solução é alugar um veículo por um longo prazo, sem se preocupar com uma série de despesas e cuidados, como documentação, impostos, revisões e manutenções, já que o custo disso tudo está embutido numa mensalidade.
Os números mais recentes da Associação Brasileira das Locadoras de Automóveis (Abla) indicam que da frota de um milhão de veículos das locadoras, 8% ou 80 mil unidades estão em programas de assinatura. A tendência, segundo o presidente da entidade, Paulo Miguel Junior, é dobrar esse volume em dois anos.
“Essa tendência tem tudo para ficar, por se mostrar uma alternativa interessante em termos financeiros e operacionais, frente às opções existentes de aluguel avulso, carro compartilhado ou aplicativos de transporte”, indica Diego Fischer, CEO da Carupi, startup de tecnologia que facilita o trâmite de compra e venda de automóveis.
Quando vale a pena
Mas nem sempre assinar é vantajoso. “Tudo depende da necessidade específica do consumidor. Se não ter a posse do veículo não importa para ele, o veículo por assinatura oferece dois diferenciais importantes: disponibilidade total do carro para quando precisar usá-lo (em relação a serviços de carro compartilhado) e custo, quando comparado com aplicativos de transporte”, argumenta Fischer.
Para o especialista, a modalidade de aluguel é vantajosa para aqueles que querem ter a posse do carro, mas seu nível de crédito é baixo. “O consumidor pode acabar pagando mais na compra financiada do carro do que pagaria com a assinatura”, ressalta.
Fischer enumera alguns perfis mais adequados à compra direta do veículo: “Aqueles que têm dinheiro para a compra à vista, ou têm uma boa linha de crédito ou gostam de ter um carro para chamar de seu – e pretendem ficar com ele por mais de trêsanos, comprar é o melhor modelo”, explica.
O CEO diz que a Carupi, por exemplo, tem visto um aumento relevante na procura por carros nos últimos meses, tanto para consumidores que pretendem trocar o transporte público por um veículo particular, quanto para quem está só trocando de carro. “Para estas pessoas, ter um carro próprio engloba todos os benefícios que o modelo de assinatura, o modelo de aluguel e o modelo de compartilhamento de carros oferecem”.
Montadoras na briga
O negócio das assinaturas tem ganhado tanta relevância que passou a ser um dos focos dos novos negócios das montadoras. Volkswagen, Audi, Fiat, Jeep, Renault e Toyota apostam fortemente nessa modalidade. E por causa da sua diversificação de produtos, já rivalizam de igual para igual com locadoras e empresas de veículos compartilhados. “As montadoras não estariam investindo tanto nessa inovação se o modelo não fosse vencedor pelo menos para uma fatia do mercado. Elas são mais financiadas, mais confiáveis aos olhos do público e parecem estar dispostas a se adaptarem às novas demandas do mercado”, conclui Fischer.
Na Bahia, contudo, só Kinto (Toyota e Lexus) e Renault estão disponíveis. As demais aguardam terem melhores resultados dos atuais programas (a maioria concentrada em São Paulo e Paraná), para definir a expansão a outros estados. Em Salvador, também é possível alugar por locadoras.
Antes de bater o martelo, o consumidor deve avaliar qual carro busca e comparar seus custos se for comprado (à vista ou financiado) ou assinado. Locadoras frequentemente oferecem promoções quando possuem algum modelo que querem desovar. Ou ainda, estudar casos como o da Renault, que passou a oferecer recentemente assinatura de veículos a preços realmente vantajosos, se comparado a um financiamento por CDC.
Um novo público consumidor é apontado por Oskar Kedor, CEO da Mobility, por essa mudança de comportamento. “Temos uma evolução de natureza geracional, com a chegada dos consumidores da chamada ‘geração Z’, os nascidos entre a segunda metade dos anos 1990 e o início dos anos 2000, ao mercado. Este é um cliente que preza pela mobilidade e não necessariamente faz questão de possuí-lo, mas considera as diferentes possibilidades de uso. No caso do carro, por exemplo, ele pode alugar, ‘assinar’, utilizar os serviços de aplicativos, entre outras opções que tendem a surgir”, explica o CEO. A Mobility é uma plataforma que oferece soluções de locação de veículos para as grandes agências de viagens do Brasil e exterior.
Para Kedor, a Mobilidade como Serviço (Mobility as a Service ou MaaS) deve representar, em menos de cinco anos, cerca de 50% da receita das montadoras de veículos, cuja produção é absorvida em parte pelas locadoras.
Já J.R. Caporal, CEO da Auto Avaliar, plataforma de gestão de estoques e de vendas de veículos, acredita que a assinatura é uma boa saída até para a atual falta de carros no mercado e filas de espera para compra. Ele aposta ainda, que em um futuro próximo, o serviço passe por mudanças, como alugar carros para diferentes necessidades num mesmo contrato. “As pessoas têm necessidades diferentes. Por isso, ao invés de uma assinatura única, o cliente poderia utilizar um carro pequeno nos dias da semana para trabalhar na cidade e no fim de semana usar um modelo mais esportivo ou maior para viajar. Isso existe nos EUA, não é muito barato, mas é uma opção”, aponta o CEO da Auto Avaliar.
Assinatura de blindado
Ter um carro blindado é opção de muitos proprietários que se preocupam com a violência das grandes cidades. E talvez uma das maiores preocupações ao fazer a proteção balística seja uma indesejável desvalorização do veículo na sua revenda. “A blindagem não costuma ser um serviço barato e ao longo dos anos todo o valor investido na blindagem perderá seu valor”, afirma Marcel Ribeiro, gestor do Drive Select.
“Comprar um carro blindado novo pode significar pagar mais que o dobro do seu valor. Se a pessoa já tem um carro e decidir blindá-lo, pode enfrentar algumas burocracias, além, claro, do valor. Também será necessário arcar com as manutenções que um veículo blindado exige, sem contar o fato de que a reforma de um blindado, caso se envolva em um acidente, por exemplo, costuma ser, em média, 20% mais cara na comparação com os veículos convencionais”, explica.
A assinatura veio para resolver essas “dores”. A Drive Select, por exemplo, oferece assinatura apenas em São Paulo e Belo Horizonte de um Toyota Corolla híbrido blindado, por a partir de R$ 5.690 mensais e de um Jeep Compass, a R$ 5.590. Não há previsão, contudo, de quando o serviço estará disponível em Salvador.
Por Lúcia Camargo Nunes
Fonte: A Tarde